sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PARAUAPEBAS PARA CARAJAS

PARAUAPEBAS PARA CARAJAS

Preâmbulo 

“Não se trata de uma panaceia, nem de maluquice ou vontade de aparecer. Trata-se de uma conversa adulta, responsável e necessária para um povo que vê seu bem maior, seu solo e suas florestas serem transportados para o outro lado do mundo, sem nenhuma compensação, sem nenhum resultado de vida. 

Mudar o nome é apenas o inicio de mudanças profundas nas responsabilidades e obrigações de todos os agentes envolvidos: VALE, PREFEITURA, VEREADORES E POVO que, agraciados por Deus para sediarem tanta riqueza, abrem mão dela assim, sem se incomodar, sem perceber que todos os recursos são escassos, que o minério não da segunda safra e que tudo, por mais que pareça eterno, acaba.”

RAZÕES ECONOMICAS E ESTRUTURAIS PARA A ALTERAÇÃO DO NOME DE PARAUAPEBAS PARA CARAJAS

A seguir vamos publicar dois textos de terceiros, que justificam em muito a mudança de nome da cidade de Parauapebas para Carajás. Podem se perguntar, maluquice, mas não é não. Dentro de mais ou menos 100 anos, a fabulosa reserva de hematita compacta de Carajás terá se esgotado. Restará apenas um buracão, escondido dentro da floresta.
Esta cidade e toda sua pretensa riqueza estará esgotada também. Mantido o ritmo e as concessões atuais, o Estado do Pará não será compensado, a cidade de Parauapebas também não, como não esta sendo compensada, diante dos colossais números, produção e riqueza da então maior mineradora de ferro do mundo. 

Vamos assistir passivos a destruição de tudo de bom que encontramos aqui quando chegamos? Ou pelo fato de termos chegado, na saído vamos levar tudo? Exemplos não faltam em Minas Gerais, nas varias cidades de minas esgotadas, o que se aconteceu com as populações.  

Nossa consultoria participou, há anos atrás, de um projeto para recuperação destas cidades e o que vimos no CREIA/MG e na Fundação Mariana, nos tirou o sono por muito tempo. 

Alterar o nome de Parauapebas para Carajás começa por desmontar a farsa criada aqui, onde o mundo sabe exatamente onde esta Carajás, nas ninguém, pelo que se vê na imprensa especializada ou popular, sabe onde esta Parauapebas.  A mudança do nome realoca a cidade de, por valores das bolsas, baseada apenas nos resultados da VALE, é um patrimônio de 120 bilhões de dólares. 

É como se fizéssemos um investimento de 120 bilhões de dólares na cidade e região em que a VALE extrai um bilhão de toneladas de minério de ferro. Da cidade maior exportadora do Brasil e patrocinadora de um dos maiores corredores de exportação do mundo, fonte de alimento dos gigantescos tigres asiáticos, China e Japão. Não é pouca coisa. 

A mudança do nome da cidade visa estrategicamente à alteração deste quadro de abandono, de desconhecimento e de desinteresse pelo dormitório Parauapebas. Sim, porque funcionamos apenas como um dormitório mal instalado de Carajás, da mina de Carajás. Quando toda a cidade tiver o mesmo nome, os investidores estrangeiros terão outro olhar para nossas necessidades, para a base de tamanha pobreza e descaso na origem da maior produção de ferro, cobre ouro e outros metais que nem temos ideia, saem daqui para o mundo.  

Este mundo, que precisa nos enxergar trabalhadores semiescravos, compreender nossas estatísticas de hanseníase, de mortes por falta de máquinas de hemodiálise, de saúde precária e inexistente, corrupção violenta, água tratada, rede de esgoto primaria e tantas faltas e necessidades que faríamos hipertexto em citar.  Carajás, como denominação de toda a malha urbana, atrai olhares e observações que Parauapebas não desperta, é outro mundo. 

Da esfinge Belindia, Parauapebas é a índia, Carajás é a Bélgica. De uma só vez, convertemos a Bélgica e a índia num só lugar, com um só nome.  Integramos mais 120 bilhões de possibilidades e esperança de transformação, antes que seja tarde demais, antes que a mina de Carajás se esgote.
Carajás — a conta do bilhão
Lúcio Flávio Pinto - Julho 2007 
 A Vale já começou a comemorar um aniversário que só acontecerá em outubro: o primeiro bilhão de toneladas de minério de ferro produzido em Carajás. Se seus planos derem certo, o 2º bilhão acontecerá em menos de uma década. 

E toda a melhor jazida de minério de ferro acabará em mais um século. O que sobrará para nós destas festas? As batatas?
 A Companhia Vale do Rio Doce começou a comemorar, no mês passado, uma façanha que só se completará em outubro: a produção de um bilhão de toneladas de minério de ferro na mina de Carajás, no Pará. A marca foi alcançada com menos de 23 anos de operação, graças a uma extração média de 45 milhões de toneladas por ano (começou com menos da metade desse valor). Se a mina tivesse funcionado durante esse período com a capacidade máxima de projeto, de 25 milhões de toneladas, o primeiro bilhão só seria alcançado em 40 anos, ou 2025. 
Há, portanto, motivo para tanta comemoração. Haverá ainda mais razões quando o segundo bilhão for atingido. Se a escala atual de produção, em vigor a partir deste ano, que passará de 85 milhões para 100 milhões de toneladas, fosse mantida, Carajás chegaria a 2 bilhões em 10 anos — em menos da metade do tempo do 1º bilhão. Acontece que a partir de 2010 a mina já estará funcionando na bitola de 130 milhões de toneladas, respondendo por metade de toda produção de minério de ferro da CVRD, a maior vendedora desse produto no mundo.
 São números espantosos. As jazidas de Carajás, com 18 bilhões de toneladas, podiam durar 800 anos se o máximo de produção que era previsto inicialmente se mantivesse. Na média do primeiro bilhão, o tempo de vida útil cairia à metade, em valores redondos. No ritmo que a mina terá a partir de 2010, esse prazo baixará para 180 anos. Ou seja, mais 130 anos a partir do momento em que começasse a produzir 130 milhões de toneladas a cada ano. Ou, na verdade, um tanto menos: seria preciso descontar desse total o minério já extraído. Talvez apenas mais um século.
Aquele fantástico pacote de hematita compacta, com 600 metros de altura, espalhando-se por mais de 400 mil hectares de área, inteiramente lavrável a céu aberto (sem precisar, portanto, de dispendiosa mina subterrânea), que parecia infinito, inesgotável, não será mais do que história para os nossos bisnetos. Restarão então algumas perguntas ansiosas pelas respostas: fizemos por merecer o melhor minério de ferro que já existiu na crosta terrestre? Tiramos dele os benefícios que ele nos podia proporcionar? Fomos inteligentes no seu aproveitamento? Pensamos a longo prazo, já que minério não tem segunda safra, ou agimos apenas considerando o imediato?

À euforia da CVRD, com tantas marcas históricas alcançadas e recordes quebrados ao longo de 10 anos como empresa privada, a indicar o acerto da administração Fernando Henrique Cardoso em privatizá-la, corresponde a inquietação dos que questionam se têm motivos de fato para se incorporar a esta festa. A cada vez em que faz o balanço do exercício findo e apresenta seus planos para o ano em curso, a direção da Vale esgrime números grandiosos.
São sempre bilhões e bilhões de reais ou dólares, centenas e centenas de empregos, rendas e salários, trens e vagões, usinas e estradas. Agora seu valor de mercado chegou a 100 bilhões de dólares, tornando-a a segunda maior mineradora do mundo. À sua frente está apenas a anglo-australiana BHP-Billiton. Encerrado o foguetório verbal, porém, fica a sensação de que a participação do distinto público restringe-se à festa de aniversário, ao vernissage, à avant-prémière, à admissão com data certa e duração curta. Na hora de distribuir os dividendos, a reunião é em circuito fechado.
É impossível não deixar de reconhecer e admirar a capacidade empreendedora e o tirocínio de dezenas de pessoas que dirigiram e dirigem ainda a companhia, numa sucessão aberta pelo engenheiro Eliezer Baptista. Foi ele que definiu um rumo, o do Oriente, para viabilizar Carajás depois que os americanos da United States Steel se retiraram da associação com a CVRD, iniciada em 1969, dois anos depois daquele 31 de julho de 1967, que marca a descoberta da jazida, em outra data honorável, cujos 40 anos serão devidamente comemorados.
A USS, então a maior siderúrgica do mundo, achou que podia se manter na sua mina da Venezuela, aonde se estabelecera em 1954, e esperar por um novo chamado dos ex-parceiros compulsórios (por exigência do governo militar, incomodado com o fato de uma multinacional ser dona exclusiva de tamanha riqueza estratégica). Afinal, a engenharia econômica de Carajás lhe conferia vantagem competitiva exatamente pela abertura que propiciaria ao Brasil do mercado consumidor dos Estados Unidos, vedado até então.
Mas a equação de Eliezer Baptista já estava armada em torno do Japão, que se tornaria o principal cliente de Carajás (e da fábrica de alumínio da Albrás). Para fechar as contas, a Vale precisava deslocar o concorrente australiano, que estava muito mais perto, porém dispunha de um minério bem mais pobre. Só pureza não bastava: a Vale azeitou a logística e criou um eixo de exportação invejável, através de ferrovia, até o porto da Ponta da Madeira, em águas profundas, no litoral do Maranhão.
O minério de Carajás chegou barato ao Japão, garantindo 15% da demanda dos altos-fornos da sua siderurgia. Quando o gigante chinês despertou, provocando o maior impacto mundial da era moderna (a China produz um terço do aço do mundo), a CVRD já dispunha de um esquema afinado para se habilitar a fornecer volumes crescentes, numa escala que já chega a 40 milhões de toneladas, superando o Japão. A triplicação e quadruplicação do preço do minério, que por largo tempo estagnou em torno de 20 dólares, é função do enorme e insuspeitado incremento da demanda chinesa.
Por causa dessa fome ainda insaciável (e pendente de controle e redução) de minério para atender à desenfreada expansão da produção de aço, em 2003 a Vale deu um golpe antes impensável: reajustou sua principal mercadoria em 71,5%. E todos tiveram que pagar. Os aumentos seguintes não foram tão notáveis assim, para não dar um nó no mercado, mas continuaram a ser impressionantes.
O resultado: exercício após exercício, a Vale fechava seu balanço quebrando recordes de produção, faturamento, lucro líquido e distribuição de dividendos. Em 2005 foi a empresa que mais dividendos distribuiu no mundo inteiro. Quem aplicou em papéis da Vale ganhou quase 10 vezes mais do que quem investiu em caderneta de poupança nos últimos 10 anos. A compra do controle acionário custou, em 1997, 3,3 bilhões de reais. Só o lucro líquido de 2005 foi quatro vezes e meia maior.
Como seus acionistas já tiveram de volta o dinheiro aplicado várias vezes (a uma taxa média de 40% desde a privatização), a empresa incrementou no ano passado seu porte: incorpou a segunda maior produtora e dona da maior jazida de níquel do mundo, ao custo de 19 bilhões de dólares, em dinheiro vivo, para liquidar os demais pretendentes ao negócio. Foi o maior que uma empresa baseada na América do Sul já realizou em todos os tempos.
A CVRD, há seis anos sob o comando forte de Roger Agnelli, o mais impetuoso dos executivos brasileiros (pulverizou Benjamin Steinbruch dos anais da empresa), está cada vez mais forte (embora razoavelmente endividada), mais (preocupantemente) internacionalizada e fica mais diversificada (com a Inco, a área de metais não-ferrosos já é responsável por 42% do faturamento). Mas e o Pará?
O Pará, ao que parece, é um detalhe nessa história, embora sem ele não houvesse parte (e a parte melhor, para a companhia) dessa história. O Pará está à margem, está fisicamente atrás da porteira que controla ou simplesmente veda o acesso às minas (que, como se sabe, não são apenas de minério de ferro: incluem neste momento manganês e cobre, mas têm ainda níquel e ouro, em proporção crescente).
O caos humano — social, étnico, fundiário, policial — fica do lado de fora. Do lado de dentro, a ordem, o compromisso, a determinação. Um universo protegido pelas unidades de conservação que circundam as minas, criadas pelo governo federal, por inspiração da CVRD, que não pôde comprar a superfície do solo que contém as rochas mineralizadas. 

A empresa proclama que o Pará está muito bem e ficará ainda melhor. Está apostando muitas fichas no Pará. Seu plano de investimento é várias vezes superior ao do governo do Estado, que se encolheu comparativamente ao porte da mineradora. 
Só para se ter uma idéia: um quarto do dinheiro que a empresa gastou nos últimos quatro anos em suas ferrovias e terminais portuários (o equivalente a dois bilhões de dólares) daria para concluir, com folga, o sistema de transposição do Tocantins, restabelecendo a navegabilidade do rio, interrompida pela barragem da hidrelétrica de Tucuruí há 23 anos.
Mas a CVRD está sob o guarda-chuva leoninamente protetor da Lei Kandir, que a isenta do pagamento de imposto por exportar, que é quase só o que ela faz no Pará, produtos semi-elaborados. Seu efeito germinativo no Estado é desproporcionalmente pequeno diante do volume enorme de riquezas que ela movimenta no Pará. Gastará 2,5 bilhões de dólares nos próximos dois anos para elevar a produção de minério de ferro para 130 milhões de toneladas e colocá-la no porto de embarque, na ilha de São Luís, praticamente duplicando a ferrovia de Carajás. 

Como não chegará a tanto, provocou especulação sobre sua intenção de construir um mineroduto, o maior do mundo, com quase 900 quilômetros de extensão (seis vezes o tamanho dos minerodutos do caulim).
A empresa está disposta a esticar sua imaginação e seu capital até o limite extremo para colocar mais minério paraense no mercado mundial, mas não move uma palha no sentido de transformar minério de ferro em aço dentro do Estado. Não só agregaria mais valor ao produto como teria menos volume a transportar nos comboios, que terão sua capacidade atual aumentada de 220 para 320 vagões no próximo ano, constituindo o maior trem de minério do mundo. Quase um terço do minério transportado é estéril, descartado somente na siderurgia.
É certo que com uma tonelada de ferro se aproximando de 90 dólares, aritmeticamente falando é mais atraente vender minério. Mas por quanto tempo? Em que nível de dependência de dois clientes, China e Japão, responsáveis pela compra de mais da metade da produção de Carajás, principalmente da China? E — o que nos toca mais de perto — por que privar o Pará de usufruir essa fase de vacas gordas?
Se a Vale só pensa nela, está na hora de o Pará pensar na parte que lhe cabe nessa sucessão de festas de recordes, seja na forma de uma compensação honesta e devida como numa sobretaxa sobre o lucro, a partir de certo limite, mesmo que essa compensação precise vir através de uma nada fácil legislação ou de uma terrível guerra política. Já está na hora de os paraenses se aperceberem de uma coisa: essa enorme e valiosa riqueza que está indo embora, numa escalada crescente, não voltará. Nunca mais.
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Lúcio Flávio Pinto é o editor do Jornal Pessoal, de Belém, e autor, entre outros, de O jornalismo na linha de tiro (2006). Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

Após lucro recorde, Vale vê com otimismo 2011
Publicado em 28 de fevereiro de 2011 por Editor

 
A mineradora Vale fechou 2010 com o maior lucro de sua história. O ano também representou recordes de receitas operacionais, lucro operacional, margem operacional e geração de caixa, segundo a empresa.

O ganho da mineradora foi de R$ 30,1 bilhões, “o maior da história na indústria de mineração”, de acordo com a empresa. Trata-se de um crescimento de 193% em relação a 2009. Apenas no quarto trimestre, a Vale lucrou R$ 10 bilhões, “o maior resultado de um quarto trimestre”, com expansão de 280%.

A receita líquida foi de R$ 27 bilhões de outubro a dezembro e de R$ 85,3 bilhões em 2010. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) atingiu R$ 46,4 bilhões em 2010 e R$ 14,6 bilhões em três meses.

Segundo a consultoria Economática, o resultado anual da Vale é o maior lucro já registrado por uma empresa privada brasileira de capital aberto. O desempenho fica atrás apenas do lucro da estatal Petrobras em 2008, de R$ 33,0 bilhões, e no ano passado, de R$ 35,2 bilhões.

O preço do minério de ferro terá reajuste de 20% no segundo trimestre do ano, demonstrando que a empresa ainda aproveita a alta demanda das siderúrgicas na Ásia.

Em entrevista na sexta-feira, executivos da mineradora apontaram a mudança do histórico reajuste anual de preços do minério para um modelo de revisão de valores a cada três meses como um dos pontos que contribuíram para o resultado de 2010. Mais dinâmico, o novo regime de preços permitiu à Vale capturar melhor os reflexos da aceleração da economia da China – maior consumidora de minério de ferro do mundo.

Conforme os diretores, no caso de manutenção da curva de preço, o mercado pode esperar por novos recordes neste ano. “Nossa expectativa é bastante positiva”, disse José Carlos Martins, diretor de marketing, vendas e estratégia. O otimismo se baseia na tendência de expansão da produção global da indústria, junto com um ambiente de restrições na oferta de minério.

Os resultados da Vale agradaram os investidores, que estão com boas expectativas para os próximos balanços da mineradora.

“O bom desempenho da empresa deve continuar, em função das altas cotações e da demanda. Entretanto, o investidor deve se manter atento às perspectivas para 2011 (principalmente em relação à China), ao comportamento dos custos e oferta de insumos e ao fluxo de notícias, que podem limitar maior alta das ações”, afirmaram os analistas Rodrigo Fernandes e Hering Shen, da Fator Corretora, referindo-se à revisão do da regulação do setor e a possíveis mudanças no comando da empresa.

Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, assinalou que, no geral, os números do quarto trimestre ficaram acima das estimativas, e as projeções para os próximos trimestres também são favoráveis. Ele destacou, principalmente, a expectativa de preços médios e volumes elevados em 2011 para minério, devido ao aumento de demanda proveniente da gradual recuperação global e manutenção da atividade siderúrgica chinesa; a restrita capacidade de expansão da produção pelos principais concorrentes no curto prazo; e a estabilização de novos negócios, como carvão e fertilizantes.

A Vale deve definir nas próximas duas semanas sua entrada como autoprodutora no consórcio Norte Energia, responsável pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). Segundo o diretor de implementação de projetos, Eduardo Ledsham, a Vale no momento faz uma avaliação técnica e econômica do investimento, revisando dados que estavam sendo considerados no ano passado, quando o consórcio no qual a empresa participava perdeu a licitação de Belo Monte. “Vamos precisar de duas semanas para fazer uma análise técnica apurada e aí tomar uma decisão”, disse.

Durante entrevista sobre os resultados, Guilherme Cavalcanti, diretor de finanças, disse que o plano de realizar uma oferta pública inicial de ações da Vale Fertilizantes segue em fase de estudos. Ele afirmou que alguns bancos já estão trabalhando no tema, mas que nenhuma instituição foi contratada para fazer a emissão.

Fonte: Valor Econômico 

Publicação:
Gilberlan

ECONOMIA: A TROCA DE COMANDO DA VALE DO RIO DOCE

ECONOMIA: A TROCA DE COMANDO DA VALE DO RIO DOCE
  Enviado por Antônio Ateu, ter, 05/04/2011 - 15:31
Autor: Nazareno Godeiro Coordenador do instituto latino-americano de estudos socioeconômicos (ILAESE)

Algo de podre no reino da Vale: comentários sobre a troca de comando na maior empresa privada do Brasil  retirado do blog brasilianas.org em 22/04/2011, www.advivo.com.br › blogsblog de Antônio Ateu Portando já com a escolha do novo presidente. Comentaremos aqui, o que nós, peões e habitantes de parauapebas, podemos esperar desta troca:
 
A troca de comando na Vale revela movimentos que estão se dando na estrutura da economia brasileira. O governo federal acendeu uma luz amarela de preocupação. a gota d água: temos a maior empresa exportadora de minério de ferro do mundo e estamos comprando trilhos de trem da china a um preço sete vezes maior que o do minério exportado.

A contradição estrutural da economia brasileira esta contradição revela uma mudança estrutural na economia brasileira que se deu nos últimos 20 anos: o Brasil está retornando a uma economia de cunho colonial baseada na exportação de produtos primários. A mão invisível do mercado, ou seja, o imperialismo determinou que o lugar do brasil no mundo seria de fornecedor de alimentos, matérias primas e energia para o salto chinês. 

Assim, está acontecendo um retrocesso no caráter da indústria brasileira: ganham peso os setores primários exportadores em detrimento da indústria de transformação, que perde peso relativo no conjunto da economia brasileira. Enquanto a china tornou-se a “fábrica do mundo”, o Brasil está se tornando, junto com a América do sul, o “celeiro do mundo”. O gráfico abaixo mostra essa mudança na pauta das exportações brasileiras: básicos x manufaturados 1964–2009–em% dados do ministério do desenvolvimento, da indústria e comércio – SECEX – IBGE (básico/semimanufaturados na cor azul, manufaturados na cor vermelha) esta volta ao passado foi patrocinada por FHC e arrematada por Lula, que, no início do mandato, queria aparecer mais neoliberal que o imperialismo, para não assustar seus novos aliados, os capitalistas brasileiros e internacionais[1]. a partir de 1990, se iniciou uma queda sustentada de exportações de manufaturados e aumento dos produtos primários. Esse foi o resultado da reconversão neoliberal da economia brasileira.

Reconversão inicia com FHC e salta no governo Lula no governo Lula, acontece o salto dos setores primários. Em 2010, pela primeira vez desde 1978, os produtos básicos superaram os manufaturados na pauta de exportações brasileiras. A partir da privatização, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, a Vale se manteve praticamente do mesmo tamanho, faturando em torno de U$ 700 milhões de dólares por ano. No governo Lula, durante os dois mandatos, seu faturamento cresceu 874%, duplicando seu tamanho a cada ano. 

O lucro líquido da empresa, nos dois mandatos do governo Lula, cresceu impressionantes 2.125%. Com a introdução do neoliberalismo no Brasil, a partir do governo Collor, surgiu um novo modelo de acumulação capitalista, apoiado nos bancos, nacionais e internacionais, que vivem parasitando a dívida pública, juros altos para atrair capital internacional que possibilite seguir rolando a dívida, combinado com saldos comerciais elevados no comércio com o exterior (exportações do agronegócio, mineração e energia), também para financiar a rolagem da dívida pública, que já chega a 50% do PIB e absorve toda a riqueza do brasil. todo ano são entregues R$ 400 bilhões em juros e amortizações aos banqueiros, mas a dívida nunca diminui; ao contrário, cresce R$ 20 bilhões por mês.

As contradições da economia neocolonial vêm à tona as contradições deste novo modelo de acumulação estão se mostrando e obrigam o governo a agir em várias áreas. a Vale é a expressão superestrutural da mudança profunda da economia brasileira, demonstrando que o brasil perdeu sua soberania. A constatação deste fato se deu com o enfrentamento entre Lula e a Vale, na figura de Roger Agnelli, em 2009, durante a crise econômica internacional. A Vale demitiu 1.300 empregados diretos e cerca de 13 mil terceirizados. Ou mais de 10% da sua força de trabalho mundial, que neste momento era de 119 mil trabalhadores, entre efetivos e terceirizados. Além disso, cortou os investimentos em US$ 5 bilhões. Depois de enfrentamentos públicos entre Lula e a vale, aparentemente a vale recuou, voltou os investimentos ao nível anterior e prometeu investir em siderúrgicas. Depois de toda aquela briga, a vale investiu somente 2,7% do total dos seus investimentos em siderurgia em 2010. 

A vale continuou com seus investimentos para se tornar a maior mineradora do mundo e não entrar no setor siderúrgico pois, segundo o sr. Roger Agnelli, “a vale não poderia concorrer com seus clientes”. Poderia ter completado: “a vale não pode concorrer com seus donos”, já que os donos das grandes siderúrgicas no mundo são os mesmos donos da vale: 65% das ações da vale estão nas mãos de estrangeiros, que movimentam US$ 1 bilhão por dia com ações da empresa em Nova York.
Os grandes acionistas estrangeiros da empresa são o Citibank, Hsbc, j. p. Morgan Chase, Barclays, Fidelity management, vanguard emerging markets, morgan stanley, templeton e black rock. São grandes bancos internacionais. Vale recordar que a dona do j.p. morgan é a bilionária família rockfeller. Estes investidores querem transformar a vale, em curto prazo, na maior mineradora do mundo. Aparentemente, este objetivo estratégico dos grandes acionistas da vale entrou em rota de colisão com os interesses imediatos do governo, que está preocupado com a dinâmica de reprimarização da economia brasileira e os efeitos nocivos deste fato sobre a economia de conjunto.
O governo do PT está assustado com sua própria obra: desde o início da privatização, os petistas se renderam ao processo e resolveram participar por dentro da privatização, através dos fundos de pensão das estatais (previ e petros). Até 2010, Sérgio Rosa era o presidente da previ e do conselho de administração da vale, oriundo do grupo de sindicalistas dos bancários da CUT de São Paulo, dirigidos por Luiz Gushiken.
o Governo Lula continuou isentando a vale de pagar impostos sobre as exportações e continuou cobrando uma mixaria de compensação sobre a exploração mineral (2% sobre as vendas, enquanto a Petrobras paga 10%). Ademais, os sindicalistas da CUT, junto com eternos pelegos comprados pela vale, permitiram que um operário da vale produza o equivalente a US$ 1 milhão por ano enquanto recebe como salário e encargos US$ 23 mil, um salário médio mensal de r$ 1.500. A exploração do operário da vale é tanta que, em apenas quatro horas de trabalho, o funcionário da vale paga seu salário mensal.

Para quem trabalha ROGER AGNELLI?  Figuras destacadas do governo [2] estão concluindo QUE ROGER AGNELLI dirige a vale como se ela fosse uma empresa estrangeira. Depois de atuar conjuntamente por oito anos na direção da vale com Roger Agnelli, o governo concluiu o óbvio! Durante a crise, veja a afirmação do Roger Agnelli, em nome da diretoria da vale: “mantivemos, para 2009, o mesmo valor da remuneração mínima ao acionista anunciada em 2008, um ano de geração de caixa recorde, num claro esforço de satisfazer as aspirações de curto prazo de nossos acionistas, especialmente frente a um cenário mundial de reduzida liquidez.” [3] aí está o objetivo central de se ter um banqueiro comandando uma empresa industrial: satisfazer as aspirações de curto prazo dos grandes acionistas, seus colegas banqueiros americanos e brasileiros, sócios minoritários na empreitada. Porém é comum no Brasil se dizer que o governo é dono da vale porque tem acionistas com peso na empresa, caso da previ e do BNDES. Para resolver a controvérsia, veja a declaração de Tito Martins, que é o candidato mais cotado para substituir o Agnelli: “dois terços das nossas ações são comercializadas fora do brasil. estas ações são possuídas por não brasileiros.”.

Trocar Tito Martins por Roger Agnelli à frente da vale é o mesmo que trocar seis por meia dúzia. Esse senhor esteve à frente da empresa na luta para derrotar a heroica greve dos mineiros canadenses da vale. Recusou-se a negociar com os grevistas para impor perdas de direitos. Preferiu ter um prejuízo de Us$ 1 bilhão a ter de ceder direitos que custariam muito menos para os cofres da empresa. Foi uma queda de braço política, para tentar derrotar os trabalhadores. Esse é o substituto que querem colocar à frente da vale para defender os interesses do Brasil e dos trabalhadores!

Desafiamos o governo do PT e da CUT a reestatizar a vale esta é a única forma de garantir que o crescimento da vale sirva ao brasil para construir uma indústria nacional de base, independente do imperialismo e das grandes corporações transnacionais. Se o governo Lula fosse, não diria socialista, mas minimamente democrático e nacionalista, teria reestatizado a vale durante a crise de 2009.
Lula teria o apoio de toda a população e dos funcionários da empresa. em plebiscito realizado em 2007, mais de três milhões de brasileiros aprovaram a reestatização da vale. Lula criticou o plebiscito dizendo que isso “afugentaria os investidores privados do país”. em pesquisas realizadas pelos sindicatos da vale, mais de 90% dos funcionários se pronunciaram a favor da reestatização.
O governo Lula poderia reestatizar a Vale legalmente, pois detém uma ação com poder de veto, chamada Golden share, que permite reestatizar a empresa em caso de fechamento de minas, mudança de nome ou mudança de composição acionária.

Desafiamos Dilma a cobrar 10% de compensação pela exploração mineral se o governo Lula tivesse coragem de enfrentar os empresários e os acionistas estrangeiros da vale teria aumentado a cobrança de royalties para a mineração. Eles pagam, hoje, somente 2% para extração de minério no brasil. o governo tem coragem de cobrar da Petrobras 10% de royalties, mas não tem coragem de cobrar da multinacional vale.
Em 20 anos, as maiores minas do Brasil estarão exauridas, deixando grandes crateras onde havia bilhões de dólares em minério de ferro. No final, os investidores estrangeiros irão embora deixando um rastro de destruição e miséria. Quem vai pagar por isso? Apesar de Lula fazer bravata na tv, brigando publicamente com roger Agnelli, seu governo não se dispôs a fazer o mesmo que fez o governo australiano, que cobra mais de 7% de royalties e está propondo recolher 40% do lucro líquido das empresas como compensação. O Canadá chega a cobrar até 18% de compensação pela exploração mineral do ferro. O Chile está estudando passar a alíquota atual de 5% para 9% em 2014.
Desafiamos o governo Dilma a impor a cobrança de 10% de royalties de compensação pela exploração do minério de ferro e a cobrança de 8% do lucro líquido das empresas para usar nas regiões mineradoras, para recuperação do meio ambiente destruído pela ação mineradora. Quando a vale era estatal, existia uma cláusula no seu estatuto que determinava que a empresa devesse investir 8% do lucro líquido nas regiões onde explorava minérios. Desafiamos Dilma a garantir a eleição direta para a direção à única forma de impedir o controle estrangeiro sobre o subsolo brasileiro e sobre a vale é reestatizando a empresa e colocando-a sob controle dos trabalhadores e do povo brasileiro. 

A eleição direta para a direção da vale é a única forma de impedir que seja controlada por estrangeiros ou manipulada pelo governo de turno e suas alianças eleitorais momentâneas. esta eleição direta é feita para todos os cargos importantes do brasil. por que não se faz para eleger a direção da segunda maior empresa do país? Não custaria quase nada a realização de tal eleição do ponto de vista financeiro, enquanto suas vantagens políticas seriam imensas. A vale é tão importante para a economia do país que, sozinha, é responsável pelo superávit comercial do brasil. sem as exportações da vale, o comércio com o estrangeiro daria prejuízo.

Desafiamos o PT e a CUT a enfrentar o problema na raiz  nos últimos 13 anos, os pressupostos que levaram à privatização da vale se mostraram falsos: a empresa não era deficitária. Pelo contrário, suas reservas minerais e seu corpo de funcionários sempre foi muito rentáveis. Porém os temores que toda a população tinha sobre privatizar a vale se mostraram verdadeiros. Temia-se pela alienação do patrimônio nacional e a consequente perda da soberania nacional. Hoje, o povo brasileiro perdeu o poder de decidir sobre o uso do seu subsolo. 

Tampouco o governo manda na vale, como ficou demonstrado nos últimos anos, quando o governo queria uma coisa e a vale fez o oposto. O governo está provocando a mudança de comando na vale sem modificar o essencial. Enquanto a vale for uma empresa privada em mãos de banqueiros nacionais e estrangeiros, ela servirá para o lucro fácil e rápido, cuja maior parte vai para o estrangeiro e não para o desenvolvimento do brasil.
Existe uma contradição entre os objetivos da população brasileira para a Vale e os objetivos da iniciativa privada. Para resolver esta contradição, não basta trocar o comando da vale, substituindo um gerente de banco por um gerente de produção. É necessário mudar o caráter da propriedade privada, cujo fim é o lucro privado, pela propriedade estatal e social, cujo fim é o desenvolvimento do país e a melhoria das condições de vida da população e a defesa do meio ambiente. Se o governo Dilma quer de fato resolver esta contradição favoravelmente ao Brasil, tem todas as condições econômicas, políticas e legais para reestatizar a vale. 

Não pode ser que os interesses de um punhado de banqueiros esteja por cima dos interesses de 190 milhões de brasileiros. Se o governo Dilma, o PT e a CUT resolverem lutar pela reestatização da vale, contará com o apoio de todo o povo brasileiro. Caso não trilhem este caminho, estarão mudando tudo para que tudo permaneça como está. Significará a rendição completa do PT e da CUT à burguesia brasileira e ao imperialismo. se optar por este caminho é porque foi seduzido pelo brilho do poder e da riqueza. Terá prevalecido a cooptação do PT e da CUT pelo capital internacional e nacional. A tentação é grande, basta ver que os dois maiores contribuintes da campanha do PT e da Dilma em 2010 foram o BRADESCO, que contribuiu com R$ 18.890.000 e a vale, que contribuiu com outros R$ 18.380.000. 


O BRADESCO cedeu a contragosto ao retirar seu gerente do comando da vale, para não perder regalias. Preferiu entregar os anéis para não perder os dedos. O BRADESCO tem grandes negócios com o governo brasileiro, cuja rolagem da dívida pública lhe rende bilhões de reais anuais, além de acordos entre o BRADESCO e o governo, como o do banco postal dos correios brasileiros, que está nas mãos desse banco e rende R$ 1 bilhão por ano. Esperemos que todo este episódio não seja um acordo de cavalheiros entre o governo do PT, os banqueiros e os acionistas estrangeiros para “manter tudo como dantes no quartel de Abrantes”. 

Caso se comprove este acordo de cavalheiros, se demonstrará que o PT e a CUT são agentes da recolonização do Brasil e da exploração do seu povo em proveito das grandes corporações transnacionais. Demonstrará também que somente a classe trabalhadora pode resgatar a soberania brasileira, entregue pela burguesia ao capital internacional, no processo de privatização das estatais.
Notas:
1. um incidente, relatado por Carlos Lessa (ex-presidente do BNDES na primeira gestão do Lula) na revista retratos do Brasil de abril de 2008, mostra essa cara do Lula: “comprei para impedir que o Mitsui ficasse com as ações da inventável [empresa que detinha as ações dos empregados da vale], e passasse a ter direito de veto dentro da valepar (sociedade que detém o controle acionário da vale, onde está o BNDES, BRADESCO, Mitsui e fundos de pensão das estatais). se o Mitsui tivesse comprado estas ações, a vale passaria a ser nipo-brasileira. Lula, que estava em viagem à África me telefonou chamando uma reunião. eu fui. estavam lá 4 ministros, que me criticaram muito. Lula disse: ‘Lessa, se eu estivesse na África e um jornalista me perguntasse se o governo brasileiro queria reestatizar a vale eu diria que não. mas parece que estávamos comprando a vale naquele momento’.”


2. declarações publicadas no jornal o estado de são Paulo, 3 de abril de 2011, caderno de economia, página b6


3. relatório anual da vale 2008