Demanda dispara e ocupação de UTI para Covid-19 chega a 100% em três capitais
Curitiba, Campo Grande e Aracaju enfrentam um cenário de colapso no sistema de saúde pública, com ocupação igual ou superior a 100% dos leitos, e registram filas de pacientes infectados com o coronavírus aguardando por uma vaga de terapia intensiva
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em tendência de alta, a demanda por leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para tratamento da Covid-19 cresceu ao longo da última semana, e a ocupação chegou a 100% em três capitais nesta segunda-feira (31).
Curitiba, Campo Grande e Aracaju enfrentam um cenário de colapso no sistema de saúde pública, com ocupação igual ou superior a 100% dos leitos, e registram filas de pacientes infectados com o coronavírus aguardando por uma vaga de terapia intensiva.
Ao todo, são dez capitais com ocupação de leitos acima de 90%, sendo que em oito delas mais de 95% das vagas disponíveis estão ocupadas. Na maior parte dos casos, os leitos disponíveis são os que vagaram recentemente e ainda estão sendo preparados para receber novos pacientes. Há capitais em cenário crítico em todas as cinco regiões do país.
Dentre os estados do Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso inspiram maior preocupação, mas também há tendência de alta na demanda por leitos em Goiás.
Apesar de ser o estado com a mais alta taxa de vacinação do país, com 29% da população que já recebeu a primeira dose, Mato Grosso do Sul está com os hospitais superlotados e criou vagas improvisadas de atendimento, chegando a 105% de ocupação de UTIs.
De acordo com o secretário de Saúde, Geraldo Resende, o quadro crítico é fruto das aglomerações, festas clandestinas e do fato de parte da população ter deixado de usar máscaras. "Infelizmente, somos o estado onde há menor cooperação das pessoas", afirmou.
Diante do cenário, prefeitos de mais de 60 cidades sul-mato-grossenses estudam implantar medidas mais duras de combate à pandemia durante o feriado de Corpus Christi, como toque de recolher entre 20h e 5h, barreiras sanitárias, proibição de consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos e suspensão da operação dos ônibus intermunicipais.
Na capital, Campo Grande, os hospitais estão lotados e já há mais pacientes internados em UTIs do que leitos disponíveis, fazendo a ocupação chegar a 101%. Há 124 pessoas aguardando na fila de espera.
Em Mato Grosso, o percentual de leitos ocupados subiu de 87% para 95%. Em Cuiabá, embora não haja pessoas na fila de espera por leitos, a ocupação chegou a 97%.
Segundo boletim do governo do estado, 25 municípios registram classificação de risco muito alto para contaminação do coronavírus e 116 cidades, risco alto. Nenhum município foi classificado com risco moderado ou baixo.
Goiás também acendeu o sinal de alerta: o índice de ocupação subiu de 85% para 89% ao longo da última semana, mesmo com o incremento de mais leitos.
No Distrito Federal, a taxa de ocupação teve leve queda em relação à última semana -passou de 95% para 84%. O total, porém, tem tido oscilações. O volume é calculado com base no número de leitos em operação no momento.
Mesmo com o cenário crítico, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal foram escolhidos para sediar jogos da Copa América de futebol, que deve ser realizada neste mês no Brasil.
Na região sul, Curitiba é a capital que enfrenta mais pressão por leitos nas últimas semanas. Menos de dois meses após flexibilizar regras de circulação, a capital paranaense retornou no sábado (29) à bandeira vermelha, permitindo o funcionamento total apenas de serviços essenciais.
A maior parte do comércio pode atender apenas com entrega e retirada. Nesta terça-feira (1º), houve protestos de empresários contra a medida.
Com 104% de UTIs ocupadas, a prefeitura da capital transformou Unidades de Pronto-Atendimento em locais de internamento de pacientes com Covid-19. A fila de espera tem 214 pacientes. Em todo o estado, a taxa chegou a 95%, com quase 700 doentes aguardando por uma UTI.
Mesmo com as restrições e o cenário crítico, nesta segunda-feira (31), a Polícia Rodoviária Federal fez um evento de posse do novo superintendente com registros de abraços e cumprimentos e participação de vice-governador Darci Piana (PSD) e do ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres.
A prefeitura informou que os atos inerentes ao exercício dos serviços públicos federais são essenciais, mas destacou que não foi informada sobre o evento para poder atestar o devido cumprimento das medidas sanitárias. A PRF afirmou que a solenidade foi fechada ao público externo e que apenas 15% do espaço para 250 pessoas foi ocupado.
O quadro também é grave na maioria das capitais dos estados do Nordeste, com destaque para Aracaju, Recife, Natal, São Luís e Fortaleza, todas com ocupação acima de 90% dos leitos de UTI.
A pressão por leitos preocupa as autoridades locais, sobretudo porque o mês de junho é marcado pelos festejos juninos. Mesmo com a proibição de festas e eventos, os estados da região registraram um pico de casos no ano passado após o período do São João.
Em Aracaju, 100% das 116 UTIs públicas estavam lotadas nesta segunda-feira. Tanto a capital quanto o estado de Sergipe estão em situação crítica desde o fim de abril. A lista de unidades de saúde com fila de espera aumentou em cidades do interior e do litoral e agora inclui até um Caps (Centro de Atenção Psicossocial).
Também houve avanço na ocupação de leitos no Maranhão, que passou de 75% para 83%, especialmente na Grande Ilha, que inclui a capital. Em São Luís, o percentual de leitos para pacientes graves ocupados subiu de 95% para 98%.
O Maranhão foi o primeiro estado no país a registrar casos da variante indiana do coronavírus. Para evitar transmissão local, há monitoramento de possíveis contaminações e reforço na imunização, com cerca de 300 mil doses extra de vacina enviadas pelo Ministério da Saúde.
Em Pernambuco, a situação permanece crítica. O estado tem 98% das vagas de UTI para Covid-19 ocupadas. Há 1.691 doentes graves recebendo cuidados intensivos. É o maior número desde o início da pandemia.
O cenário da pandemia também se agravou em Fortaleza. A taxa de ocupação de UTIs na rede pública pulou de 89% para 94% em uma semana.
No Rio Grande Norte, a taxa de ocupação de leitos chegou a 98%, com seis leitos disponíveis e 91 pessoas à espera de vagas em UTI -a contagem desconsidera leitos bloqueados, que não podem ser usados. Na Grande Natal, a taxa de ocupação também era de 98%.
Estados como Bahia, Piauí, Paraíba e Alagoas ainda não chegaram ao patamar de 90% dos leitos para pacientes graves, mas seguem em tendência de alta.
Alagoas apresentou uma piora significativa. Depois de três meses, com taxa de ocupação de UTIs abaixo de 90%, o índice desta segunda-feira chegou a 92%.
Dentre as capitais do Sudeste, o Rio de Janeiro enfrenta o pior cenário, com a ocupação de UTIs acima de 90% há ao menos três meses, chegando a 95% nesta segunda-feira. Apesar disso, o prefeito Eduardo Paes (PSD) liberou rodas de samba, reduziu o espaço exigido entre mesas e extinguiu horário limite para música ao vivo em estabelecimentos.
Na cidade de São Paulo, a situação também é de alerta: 81% dos leitos para pacientes graves estão ocupados. A capital conta com 1.371 leitos de UTI, e 1.321 de enfermaria para Covid-19.
Atualmente, seis hospitais operam com taxa de ocupação em 100%: Arthur Ribeiro de Saboya, Carmen Prudente, Vereador José Storópolli, Cruz Vermelha, Santa Casa de Santo Amaro e Santa Marcelina -os últimos três contratualizados. Nos últimos dias, o município recebeu 347 respiradores e 250 monitores, o que possibilitará a ampliação de mais 250 leitos de UTI.