O que
esta provocando este terremoto social em relações tão claramente demarcadas?
Há meses somos surpreendidos quase cotidianamente por massivas e silenciosas paradas e bloqueios na portaria da VALE em Parauapebas. Na principal porta de acesso a Mina de N4, varias empresas são surpreendidas por jovens e novas lideranças, sindicatos colocados à parte, não são mais confiáveis, assumindo o papel de interlocutores, renegando os acordos sindicais conchavados.
Estas paralisações,
como já postado, atravancam a vida de Parauapebas. E acontecem de forma repentina,
rápida e na forma de impasse: não deslocamos, queremos negociar e obter.
Ficamos surpresos que, numa região onde inteligentes e capacitados advogados,
lideres sindicais e chefes de RH desdenham nossa consultoria de conflitos,
permitiram consolidar a percepção de que algo não vai bem na USINA ATRÁS DO
MORRO, parafraseando J.J.Veiga.
Demonstram que não tem um plano de contingência para estas situações e,
apesar da repetição, estamos vendo o mesmo filme há mais de quatro meses. Todos
são surpreendidos. Nos temos uma visão e uma estratégia em como lidar com esta
nova situação.
MUDANÇA DE
CENARIO
Dentro do
contexto do atual movimento salarial brasileiro, com grande parte do
funcionalismo publico em greve e em face as violentas e transformadoras
mudanças na economia, o grande capital sempre atrasado, não se preparou para atender
possíveis reivindicações e cobranças por parte da massa assalariada. Estas
negociações deveriam ter acontecido la atrás, quando se tinha uma perspectiva
melhor da economia mundial. Agora vem um pouco tarde. Na verdade, vem na esteira das grandes obras do PAC, do esforço exportador de bens primários e claro,
do canteiro de obras e seu espraiamento pelo economia como um todo alem das
obras da copa do mundo e das olimpíadas. Se vamos dar conta, ninguém sabe. Se
os fundamentos econômicos da nação são realmente sólidos, é agüentar os testes.
Os recursos estão alocados, somos a quinta economia do mundo.
IDADE MEDIA
Evoluimos como
economia, obtendo posições no ranking mundial mas estamos ainda na idade media
como sociedade. Baseado num modelo altamente concentrador de renda e melhorias,
com a pobreza sendo reduzida lastreada na distribuição aleatória do bolsa
família e outros programas sociais, não temos uma sustentação lógica e a prova
de testes de crescimento econômico. As premissas lógicas de crescimento
sustentável passam ao largo da nossa evolução: a população continua analfabeta,
temos menos universitários que a Bolívia, não há atendimento de saúde publica,
o aparato repressor do estado tem a brutalidade do regime sírio, a
discriminação racial é parte integrante da escalada econômica, as crianças
estão em escolas de péssima qualidade, os preços são altos e exorbitantes. Não
se entende de planejamento, de custos ou de poupança. E é neste contexto que
devemos analisar os recentes acontecimentos na portaria da VALE e em toda
Parauapebas.
REAÇÃO TARDIA
É um momento
histórico para a região do Projeto Carajás. O pacto negociado não esta mais
funcionando. Será necessário uma nova direção, novos atores e novo foco.
Acreditamos que a solução para este novo
momento onde, quando parada a portaria da VALE todos saem perdendo, sejam negociações
de alto nível, incluídas as novas
lideranças. Foi em conversas com um
desses novos lideres a respeito de um novo movimento sindical, sem peleguismo
ou negociações espúrias que tivemos acesso a dimensão dos novos fatos: “....estávamos
em reunião com a empresa, eu e meus companheiros, quando adentram um tal de Canindé,
acompanhado de Rômulo, acreditamos que seja um advogado. Logo trataram de
desqualificar nosso movimento e representatividade, alegando serem
representantes do sindicato. Nunca ouvi falar deles. Depois descobri que eram
representantes da categoria e haviam negociado a miséria que estávamos
rejeitando”. Canindé é líder sindical há 20 anos, à frente do famigerado
Sindiclepemp. Fica ai a vexatória explicação: todos os lideres sindicais fazem
a política de apadrinhamento. Estão diretores há duas décadas, portanto acostumados
a negociar com empresas e se acostumaram aos cargos. Não são mais representantes da categoria, nem
na área de trabalho vão, há anos. Algo de novo precisa acontecer, nem que seja
esta reação tardia de agora. Um sindicalismo moderno, baseado na negociação, em
nova legalidade e resultados.
MOVIMENTAÇÃO
CONSTANTE
Diante de
acordos salariais que constam plano de saúde apenas para o titular, cestas
básicas no valor de 170 reais e outras loucuras locais, não tem como manter a
calma e a mina funcionando. Depois de
decisão da justiça trabalhista de Parauapebas, ordenando a VALE a pagar 300 milhões
referentes a danos morais e horas intinere, parte aos trabalhadores, parte a obras
sociais, a situação esta se tornando sem controle, como vemos nos últimos
meses.
Todos
perceberam, pelo tamanho da multa, que algo esta muito errado com seus
salários. Apesar de ter sido iniciativa dos sindicatos, temos razões para
entender ser muito mais interesse pessoal dos advogados envolvidos no caso.
Este fantoche de horas intinere tem acolhida apenas no Brasil, onde o sucesso é
vitrine e motivo de inveja e disputas pelo seu bem ganho ou gerado por seu
trabalho.
O problema
aqui é que as empresas, a VALE a frente, vêem desdenhando qualquer conhecimento
que não o seu próprio. Relevam seus próprios funcionários ao entender que seus
testes de admissão ultrapassados e sua relação de poder e comando são
incontestáveis. Não são. Há inteligência e vida alem dos contrafortes da mina
de Carajás. As empresas precisam se
estruturar para enfrentar os novos tempos. Um novo momento de negociações transparentes,
baseada na nova economia: aumento substancial da despesa com pessoal,
profissionalização da gestão, política de resultados com base na produtividade
e na competência na administração de pessoas. Uma fase adulta e mais profissional
nas relações e negociações com sua mao
de obra, razão dos sucessivos recordes de produção e exportação que fazem de
Parauapebas a cidade de maiores vendas ao mercado externo e uma das cidades
lideres em exportações no hemisfério sul. Algo merece e tem que ficar por aqui.
Que seja melhores salários e melhores condições de vida.
HAVERÁ ESTRATEGIA OU VIDA INTELIGENTE DENTRO DAS EMPREITEIRAS?
Vem a calhar a
observação. Decididamente não há.
Percebemos o desdém e menosprezo de todos perante a relação de trabalho
que há com os prestadores de serviços e empregados, a massiva maioria oriundos
do pobre e desolado interior do Maranhão. Primeiro, a humilhação de ter
carteira carimbada pela bolsa de trabalhado de Parauapebas e titulo de eleitor
local. Segundo, se submeter ao comercio dos cargos e vagas. Por 200 reais
pode-se comprar qualquer vaga na própria bolsa. A submissão em filas
intermináveis e, quando se livram da famigerada bolsa de trabalho, horas e horas,
desconfianças e maus tratos na porta das empreiteiras que não se submetem ao
esquema. Há dois vereadores na Camara de Parauapebas que levam vantagem com a situação: Massud e
Odilon. Diretamente. Estranhamente diretamente também, a oligarquia do PT
local. Digo estranhamente porque esta não era a vocação original do Partido dos
Trabalhadores. Em seguida os exames médicos. Não pode dar errado, aparecer
qualquer doença, qualquer mal nestes exames.
São sumariamente descartados, nunca são encaminhados a tratamento.
O
psicotécnico que a principio eliminou trabalhadores, hoje se resume a uma
entrevista clinica e tudo bem. Depois
vem o treinamento nos requisitos de atividades criticas. Sistema de admissão do
trabalhador às minas de Carajás e região. São onze atividades e previnem
acidentes na mina. Louvável e importantíssima exigência, mesmo porque a mao de
obra local é incipiente. Mas ocorre um problema serio aqui. A maioria destes trabalhadores
são semi-analfabetos, sendo uma elite detentora do segundo grau real, feito de
fato em sala de aula ou supletivos. São trabalhadores rurais e semi-oficiais
que buscam melhores condições de vida aqui. É um martírio para a maioria, mas
vão se ajeitando e fazendo o possível até chegarem a etapa final do processo seletivo, dois dias
de introdutório, agora liderados pela própria VALE. Neste momento se confere a
capacidade de interpretação de fato destes seres seriamente empenhados em
subirem à mina. Após dois dias precisam de
nota e aprovação. Quase ninguém é reprovado. Porque, se quase todos são
semi-analfabetos? Porque tudo foi adaptado a esta necessidade. Não há programa
publico ou privado para se mitigar a situação.
Depois de tudo
isto, fica o funcionário sujeito e esperar a ordem de serviço que pode demorar
de uma semana a três meses. Todo este processo pode demorar de uma semana a
três meses. Estamos para trabalhar na área da VALE, a então maior mineradora do
mundo. Não temos informações do tempo em outros países e nem temos comparativos
de gestão para discutir de certo ou errado. Mas as pessoas não merecem e não
deve, em lugar algum desse mundo, serem tratadas assim. Disso sabemos.
PODE-SE FAZER
DIFERENTE
Todas as
empreiteiras passaram pelo que a Construtora Rio esta passando hoje. Ontem
foram a Multiserv, a UTC, Plamont. Amanha serão a Mactron, Makro ou qualquer das
empreiteiras. Há algo de errado no processo de contratação da VALE, em todo
ele. Há uma forte mudança na relação de
trabalho e mesmo nas relações sociais na região.
Carecemos e
precisamos de estudos apropriados para se analisar o fenômeno que ocorre nesta
região remota do Brasil. Não se tem papel para carteira de trabalho, um
alistamento militar provoca filas quilométricas, uma simples carteira de
identidade leva em media 30 dias para ficar pronta, isto quando tem material e
é costume não ter. Uma consulta médica pública pode demorar até 48 horas em
fila e um marmitex pequeno custa em media 10 reais. Terra dos imóveis mais
valorizados do mundo, o sul do Para sempre foi terra de ninguém. Talvez uma
região de interesses espúrios e conchavos
inconfessáveis, tem neste contingente de jovens, utilizados tal qual material
de consumo, um novo exercito de peões famintos, saudosos e errantes. E empresas
cada vez mais ricas e admiradas por recordes sucessivos de produção, por novos
contratos cada vez com maiores somas e
políticos cada dia mais ricos e inalcançáveis. Afinal, quem se interessa pelo
sul do Pará?