domingo, 31 de julho de 2011

UMA CIDADE É PARA TODOS


Quais as ciências e seus fundamentos estudam as cidades? A demografia, geopolítica, psicologia social, estatística, economia, contabilidade pública, meio ambiente, hidrogeologia, engenharia, geomorfologia, quais? Quando cheguei para ser secretário de planejamento da cidade – fui o segundo, Parauapebas já contava um mandado oficial, percebi que ninguém, nenhum dos que iniciaram este sítio urbano, imaginavam o que, qual a ciência, o mito, a loucura que é imaginar, iniciar um povoamento que se juntadas às condições psicohistóricas necessárias ira desembocar numa cidade. E o mais surpreendente, após quatro anos de governo oficial, não tinha ainda nenhuma lei municipal, código, sistema de limpeza, projeto, planejamento, metas, objetivo.
Nada, absolutamente nada, exceto a câmara e a prefeitura. Toda a cidade é uma imensa cratera poeirenta. Fiquei profundamente impressionado com a cor da água que era servida na prefeitura: escura, suja. Este mesmo prédio, naquele tempo já velho. Tínhamos em mente uma só decisão. Aprovar a lei municipal que autorizava o desconto nos royalties pagos pela CVRD. Havia participado do projeto do sistema de água e esgoto, calculando as séries históricas do dólar para formar o indexador que atualizaria os pagamentos ao Banco Mundial. Era um sistema moderno na época e que cobria cem por cento da cidade. Valia 14 milhões de dólares e estávamos encarando com muito entusiasmo sua implantação.
 Precisava da aprovação dos políticos da cidade, do prefeito e da câmara.  Reunimos eu, Ricardo Brito, todos os vereadores e o prefeito em Carajás, onde formatamos a lei que foi aprovada em menos de um mês, iniciando as transferências, a licitação e os pagamentos logo depois. Destas reuniões saiu-se o início da implantação do sistema de captação do Rio Parauapebas, tirando a cidade do rol de metade de cidades brasileiras que não tem água tratada.
Outro problema grave era a limpeza urbana. Com a cidade toda na piçarra, como manter limpo as casas, carros, pessoas? Era urgente uma providencia no sentido de ordenar o trafego, asfaltar a cidade, disciplinar as pessoas para a entrega do lixo e definir a coleta. Como não tínhamos planejamento, o orçamento era uma piada e todos sabem que sem responsabilidade e determinação para fazer as coisas não acontecem por si, nem se pensava em resolver aqueles problemas no curto ou médio prazo. Naquele momento decidi que a melhor forma para resolver estes quesitos administrativos era a terceirização. Formamos uma comissão para disponibilizar os bens da prefeitura que se encontravam em impressionante estado de decomposição e abandono, sem manutenção ou cuidados. Iniciamos a pesquisa nacional de fornecedores e a preparação das leis locais para a licitação. Criamos o Pebinha, um tatu asseado, que não gostava de lixo ou sujeira e o divulgamos em escolas, cartazes. Em determinado dia, solicitamos todos os caminhões disponíveis na cidade e Carajás para uma mega coleta de limpeza. Lembranças de alguma coisa, com os tratores recentes de limpeza? Mera coincidência. Era realmente necessário naquela época.
Estabelecemos em lei a nomeação das ruas da cidade: nomes de árvores nas vias principais, nas transversais flores e frutos da flora amazônica e brasileira. Decisões urgentes precisavam ser tomadas. Qual seria o eixo da cidade, as pistas laterais, Ruas  E e F, qual sentido teriam, a R. do Comércio, R. Sol Poente (que até hoje acho ser o eixo central e mais importante via de desenvolvimento da cidade), as lagoas de decantação do esdrúxulo e precário sistema de esgotos da cidade. O mais curioso; sem Plano Diretor a cidade não tinha sequer seu mapa geográfico, o qual mandamos fazer em Marabá. Eram tempos muito interessantes e de grande motivos para se trabalhar, a cidade não tinha nada. Tanto é que nestes quatros anos do segundo mandado, a renda total foi de pouco mais de 68 milhões de reais, segundo dados do ex- prefeito Chico das Cortinas. Assim enquanto domávamos aquele precário agrupamento humano, surge uma greve de professores e subitamente a prefeitura pára de pagar as empresas e pessoas, o dinheiro some da cidade.
O prefeito vai tentando, entre uma viagem e outra, manter as coisas funcionando. Estamos no centro do processo, ajudando a definir a cara da cidade hoje. Analisando o feito noutras cidades, conversando, viajando, tentando selecionar o melhor. chegamos a iniciar as discursões e formatar a lei do Plano Diretor, naquela época projetamos que hoje a cidade estaria na casa dos 200 mil habitantes e trabalhávamos com esta idéia. Mas a intriga palaciana era demais, a influência do antigo prefeito totalizadora, achincalhava a administração com a idéia que éramos a intervenção da CVRD na administração. Não deu. Deixamos alguma coisa pronta no espaço que tivemos no poder. O mais importante, o sistema aprovado, a cidade na rota do desenvolvimento.
Iniciamos nossos serviços aqui, como consultoria em 1994. As lojas Opção, na figura do Sr. Evaldo, nosso segundo cliente. O primeiro foi a Integral, para a qual trabalhamos até hoje.  Esta empresa foi realmente pioneira na contratação de uma consultoria – Valmir e Célia é uma estratégia de negócios, analisada e estudada. Seu primeiro sistema de qualidade, ainda a distante ISO 9000 foi desenvolvido por nós. Quando das greves, da agressão dentro da área da CVRD estávamos lá, aliados, analisando, propondo, resolvendo os nós de origem, dentro da estrutura do nosso cliente, buscando prever o futuro. Na privatização, quando se iniciou os cortes doloridos e paralisantes em Carajás, fomos ao Rio de Janeiro, atrás de Benjamin Steinbruck, então dono da companhia, defender nosso cliente, com projeto, idéias.
Alertamos o mesmo que tais cortes, sem conhecer a logística, a mão de obra e a capacidade de fornecimento locais, era um grave erro. Que a empresa seria paralisada e não poderia durar dois anos naquele cargo. Trabalhamos com Odilon no projeto de reforma do seu armazém em Carajás  e sua escola, o Fênix. E diversos, centenas de projetos, empreiteiras e clientes, de todo o Brasil, órgãos púbicos, autarquias. Fizemos a auditoria do Sindicato Metabase de Carajás onde se levantou todos os problemas e impedimentos, depois uma solução amarga. Foi nosso cliente por muitos anos,  numa  época de crise e muitas mudanças na cidade, época de privatização da  CVRD. Criamos com o Lucena a COOCAVUMP, com o professor Luis a ASSOCIAÇÃO DAS KOMBIS que depois seria uma cooperativa de vans e conseguimos a linha para a ferrovia via decreto do prefeito.  Também ajudamos a criar este ASFEP, quando desmontamos os antigos salões e iniciamos as festas noturnas, a pintura dos muros externos, a terceirização das piscinas, das aulas de natação tudo sob o comando do Sr. Dutra.
Formamos parcerias com o Valmir, da antiga Boate Patchouli; fomos frontalmente contra a construção do galpão do CDC para ampliar o então Pit dog, do Jorge, financiados pelo BB e Sebrae. Sempre insistimos que ali era área pública, do DER, por se tratar de margem de rodovia estadual, a PA 150 e ainda por trafegar caminhões de grande porte carregados para Carajás, com risco de acidentes graves, pelo número de pessoas ali aglomeradas quando de festividades. O CDC ali é um erro urbano. Trabalhamos na campanha em 1996, quando elaboramos o plano de governo  da vice-prefeita Meire. Nele assinalamos todas as reformas e serviços que seriam desenvolvidos na cidade, impressos cerca de doze mil unidades. Por um golpe do destino, as eleições foram perdidas mas grande parte do planejado foi executado. Tudo sem autoria.
MAS uma cidade que existe há 17 anos e ainda não tem um plano diretor, uma perspectiva de longo prazo para seu desenvolvimento é algo muito sério. Primeiro é preciso consciência de que sozinhos não vamos muito longe. E que encontrar defeitos nos outros  é fácil, principalmente se temos pendências pessoais. Quando se fala numa cidade nas dimensões desta aqui, a coisa fica maior. A gestão anterior teve oito anos para pensar no planejamento urbano. O novo prefeito teve sessenta  dias para pensar no Plano Diretor da cidade. Sinceramente esperava que um novo governo apresentasse quem iria fazê-lo já no primeiro dia de serviço. É apartir dele que se discute o pólo industrial – principalmente que indústrias queremos aqui, numa cidade cuja área urbana é 90% ocupada por áreas de preservação ambiental. Um governo tem apenas quatro anos de serviços, não pode contar com os oito, dezesseis ou vinte como o grupo anterior contava. As coisas inovadoras e que atendam aos anseios da população que carregam esperanças de mudanças tem que acontecer no âmbito dos primeiros quatro anos.
O povo muda e é soberano. Um hospital leva de dois a quatro anos para ser construído o que não significa melhor atendimento. Precisa ser aparelhado e ter seu pessoal treinado. A questão da saúde é simples. Estamos numa microrregião que nem UTI neonatal existe e precisa da intervenção do governo federal para socorrer uma criança. Não seria agora a oportunidade, já que o congresso regulamentou, a formação do consórcio intermunicipal de saúde, com Parauapebas construindo hospitais e aumentando o número de leitos e médicos visando atender as cidades em volta, buscando seu investimento conjunto na construção de um parque de saúde? Existe uma vocação para agricultura? Os solos são vão produzir alimentos ou a competição com o cluster do gado inibe a agricultura industrial, de abastecimento?
Temos uma FLONAC na nossa porta, a pergunta é,  que políticas púbicas teremos para sua exploração em parceria com o IBAMA,  o MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE e a CVRD. Rapidamente a cidade esta crescendo e não temos uma política estruturada para tratar o problema. Há muitos anos chegamos a discutir e construir uma estratégia para se criar parâmetros mínimos de desenvolvimento e ocupação da planta urbana, que vazou para o jornal A Folha de São Paulo. Era um plano de segurança, integrando conceitos de fiscalização, proteção social e retorno as origens, mantidos pelo gestor municipal e seus principais contribuintes. Aliás, a CVRD já pensou grande para Parauapebas: iniciou-se com a construção da Cidade Nova, do sistema de água e esgoto, da construção de uma bela estrutura aqui na Cidade Nova.
Ainda construiu o quartel, o hospital municipal e a escola Chico Como secretário de planejamento, imaginamos uma grande cidade. Torres de resfriamento e controle climático, ginásios, a transferência da feira do Rio Verde, construindo um novo mercado, moderno, quase shopping, com acesso via trincheira sob a PA 150, junto das três colinas, em área oposta ao hoje mercado. Estas colinas seriam transformadas em horto florestal e replantada a mata original, estimulando o repovoamento com os animais nativos. Assim como o canteiro central da cidade, totalmente replantando com as espécies locais, antes da devastação. A praça da cidadania abrigaria o centro de comunicações para todas as empresas da região e Embratel, além cabines de telefones públicos e Internet, com amplo auditório e salas de cinema, teatro, etc. Onde é a Embratel hoje, seria construído amplo ginásio, visando estimular o comércio e valorizar o entorno, no bairro União.
Conseguimos regulamentar a lei que todo loteamento deveria ter uma praça interna, visando o reflorestamento da cidade. As citadas lagoas de decantação, pura incompetência e acomodação dos fundadores da cidade, seriam enfrentadas com um projeto de saneamento real, de acordo com a geomorfologia da cidade, sua estrutura geográfica, de escoamento, visando o futuro. Parauapebas ainda é muito investimento em infra-estrutura, o que foi feito no governo Chico das Cortinas, precisa ser continuado, mesmo depois que a cidade virou um jardim festivo, vazio, com constantes inovações de enfeite, esquecendo o caos que se aproxima com seu crescimento desenfreado. Olhem para o Complexo da Ferrovia, do Guanabara, do Novo Liberdade e compreenderão de que estamos falando. Não há virilidade para enfrentar o problema. Sem plano diretor,  planejamento estratégico e projeto para no mínimo 20 anos, esta cidade estará entregue a tragédia, semelhante  a de Marabá sem nem um leito de UTI neonatal.
Ainda a questão da indústria: com o cobre passando dentro da cidade, para ser embarcado na ferrovia, não temos, não se visualizou nada em termos industriais. O que significa este cobre e mesmo estes minérios para um possível parque industrial. Temos como consultoria, projeto para empreendedores e empresas interessadas, com ampla criação de empregos e renda no aproveitamento do cobre, cujo custo de transporte seria muito baixo, já chegando ao porto de Itaqui, como produto final, com grande valor agregado, ficando aqui a riqueza gerada na sua quase totalidade.
Assim também é o aproveitamento do minério de ferro, que pode ser pelotizado ou mesmo ter sua industrialização avançada e também da madeira resultante do manejo da FLONAC. Já entregamos a CVRD, projeto da cooperativa dos Serradores e Moveleiros de Parauapebas, para o aproveitamento do manejo das madeiras de lei da mata. Serrar em Parauapebas ou mesmo industrializar aqui é uma forma inteligente e estratégica de agregar valor e de resultado econômico gerador de emprego e renda.
Falar da cultura, da vida social da cidade na época é algo surreal. Resultante do caldeamento de todas as culturas do país, a cidade é moderna, dinâmica. Não temos cinema, teatro, mesmo porque o de Carajás, por seu difícil acesso, dificulta a implantação de salas aqui. A vitalidade e o multiculturalismo da cidade são fatos reais pela mesma ser um porto, aonde chega levas e levas de migrantes, de seres humanos que deixaram tudo para trás e vieram buscar um novo sonho. O desenvolvimento nestes 17 anos, é antes de tudo nossas novas realizações em busca do paraíso perdido por nós ao deixarmos nossas origens lá longe e virmos buscar a sobrevivência cotidiana, a realização profissional e sobretudo a esperança neste imenso país. O Pará é demais. SOMOS  PIONEIROS e ainda não esta nada pronto, a luta continua.
Ainda a juventude. Muito se falou  em nome dela e muito pouco, quase nada se pensou nela. É curioso notar que há vários filhos que foram estudar fora e hoje estão trabalhando aqui. Advogados, engenheiros de software, contadores, e vários outros que estão por vir. Há um enorme contingente de jovens com segundo grau e que não vão estudar fora, precisam trabalhar. Nunca pensamos na questão do emprego no médio e longo prazo, deixamos como obra do acaso e no plano individual esta resolução. Não. Lamento que neste último congresso, a juventude não tenha abordado esta questão, com a seriedade e profundidade merecidas. 
O futuro então é Carajás e um salário mínimo, entendem? A cada dia, recebemos mais e mais currículos de jovens com segundo grau, informática, CNH, para vagas de ajudante. Tudo bem, mão de obra qualificada. Mas, cadê os mecânicos, os caldeireiros, os técnicos de segurança, os soldadores? Quando querem se qualificar, esta juventude continua pagando do seu bolso, sem qualquer apoio. Não basta ter segundo grau, é preciso ter uma informação técnica, visando os interesses de Carajás para se ganhar melhor e ter um plano de vida decente.
Concluindo, a EXCLUSIV@ CONSULTORIA está preparada para a elaboração de importantes serviços em prol do futuro da cidade. Temos condição de atender todas as demandas de projetos, suporte legal e técnico, independente da complexidade e tamanho do que se quer construir ou perenizar.  Temos sempre uma solução específica para cada problema. 
 
Publicação Gilberlan
Gerente de Comunicação

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