domingo, 15 de dezembro de 2019

trabalho social e crescimento pessoal, sempre


Como uma experiência pessoal levou Thais Ferreira a um negócio social e ao setor público
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Decidir a área em que desejamos atuar não é nada fácil, e às vezes uma experiência pessoal muda toda a nossa trajetória profissional. Foi o caso da carioca Thais Ferreira, atualmente assessora parlamentar da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), mãe do Athos, de 6 anos, e do João, de 3 anos.
Tendo iniciado graduações em Design de Moda e História da Arte, e após ingressar no mestrado em Artes Visuais, Imagem e Cultura da UFRJ, Thaís passou por essa experiência em 2012, após engravidar pela primeira vez em 2011. E dela surgiu uma história inspiradora de educação e trabalho social.
Ponto de virada
“Tive minha primeira gestação entre 2011 e 2012, e perdi meu filho em 2012. NAquele momento, vi outras mulheres em situação parecida com a minha no SUS, mas que tinham a diferença em termos de acesso a informação qualificada”, conta.
Na sua experiência com o Sistema Único de Saúde, ela percebeu que outras mulheres que não tinham tido as mesmas oportunidades de educação que ela teve passavam por mais dificuldades. E não se tratava de ter conhecimentos que só médicos poderiam compreender, mas noções mais básicas sobre o próprio corpo.
Por iniciativa própria, ela encontrou a Universidade Aberta do SUS (UNASUS), um sistema de educação online do próprio sistema. “É um conteúdo voltado para profissionais da saúde pública, e eles usam muito na formação de médicos e gestores”, explica Thais.
A princípio, o sistema não é voltado para o público, mas Thais conseguiu acesso com o auxílio de profissionais que lhe emprestaram suas credenciais. “Quando eu comecei a questionar [os profissionais de saúde pública] sobre a participação do usuário no sistema, eles se viram provocados”, relembra.
Mãe e mais
Diante da percepção de que havia informação de qualidade relevante para gestantes e crianças na primeira infância, mas que ela não chegava a quem precisava dela, Thais resolveu agir. Foi com base em suas vivências que ela modelou um negócio social chamado Mãe&Mais.
“A gente percebeu que o analfabetismo em saúde é um problema bem grave”, conta Thais. “Considerando que o atendimento médio do SUS tem uma duração de 9 minutos, a minha vontade era educar em saúde para que as mulheres se apropriassem dos seus próprios corpos”, continua.
Para isso, o Mãe&Mais faz ações sociais gratuitas para gestantes e mães de crianças em primeira infância em territórios socialmente vulneráveis do Rio de Janeiro. Entre as ações estavam seções de atendimento de mulheres e resoluções de dívidas e rodas de conversa facilitadas por assistentes sociais para tratar de temas sensíveis.
A iniciativa também oferece às mães materiais de baixo custo para estimular o desenvolvimento infantil, e realizava atividades de reforço de vínculo parental “para que a mulher e a criança se conectem através do brincar, com o objetivo de educar para estimular as crianças desde a primeira infância”.
Naturalmente, a organização também oferecia às mães e às crianças atendimento médico a baixo custo, o que oferecia a oportunidade de diagnosticar precocemente problemas que poderiam se tornar mais graves. “Às vezes, como há muita dificuldade em marcar consultas com especialistas, alguns diagnósticos atrasam”, comenta Thais.
Ida para o setor público
Com sua experiência no Mãe&Mais, Thais teve a vontade de continuar atuando junto às mães e crianças, mas em escala maior. Dessa vontade surgiu a ideia de se candidatar para uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro durante as eleições de 2018. Essa decisão, conta Thais, “foi entendendo que o público que eu queria atender era justamente o que não podia bancar, e que o SUS tem uma dificuldade de aplicação por meio de políticas públicas”.
Para isso, no entanto, ela foi orientada a se distanciar do Mãe&Mais, já que sua atuação junto às comunidades vulneráveis poderia configurar compra de votos. E assim ela fez. “Eu me senti tranquila porque eu entendia que era um próximo passo. Tinha esperança de que poderia rolar de fato, e a gente ia conseguir chegar em muito mais gente, com mais força”, conta.
E realmente, quase rolou. “Faltaram menos de mil votos para eu ser eleita”, lembra Thais, “Foi um processo de aprendizado, e eu senti que precisava aprender mais sobre esse lugar”. Nesse cenário, surgiu a oportunidade de trabalhar como assessora parlamentar em São Paulo, para o mandato da deputada estadual Marina Helou. “Os projetos que eu já pensava em fazer eram muito alinhados com o que ela tinha em mente”, narra.
Outro fator que a motivou nessa transição foi a oportunidade de ocupar um lugar que ainda poucas mães negras ocupam. “A gente vê que nesses espaços existe muita exclusão, e que as pessoas de referência são sempre as mesmas, homens brancos da elite. Então eu entendi que me posicionar como uma referência seria algo empoderador”, diz.
Educação continuada
Ao longo dessa trajetória, Thais também pode complementar sua formação por meio de diversas oportunidades de estudo. Uma delas foi por meio do projeto Líderes Públicos da Fundação Lemann. Com outros 19 Lemann Fellows, ela foi a Zurique, na Suíça, para um curso de formação em educação infantil, política de drogas e segurança pública.
Além disso, ela também realizou cursos nas plataformas ArvardX e MITX, os portais de educação a distância da Harvard University e do MIT. Após ter contato com essas ferramentas na UFRJ, ela aproveitou um momento em que o dólar estava mais barato para receber certificações relevantes para sua área de atuação.
“Foi bom porque eu consegui contato com grupos de todo o mundo que buscam soluções para problemas parecidos com o meu”, relata. Além disso, a experiência lembrou a ela de um programa em Harvard para o qual ela foi selecionada quando estava no ensino médio, mas do qual não pode participar por falta de dinheiro. “Me apropriar dessas ferramentas online hoje é um meio paleativo de acessar esse conhecimento que ainda é excludente”, considera.
Para o futuro
Thais não descarta a possibilidade de se candidatar novamente nas eleições de 2020, dessa vez para o cargo de vereadora, embora ainda precise alinhar questões como captação partidária e captação de recursos. “O compromisso que a gente assume quando tem uma votação massiva como eu tive não é algo sobre o que a gente pode decidir sozinho”, comenta.
Enquanto isso, além de assessora parlamentar, ela também continua sua atuação em outras iniciativas sociais. Uma delas é a Massa Comunicação de Causas, uma espécie de agência que “faz o assessoramento de marcas e coletivos que querem se comunicar melhor sem perder a verdade de seu discurso”, alucida.
Outra delas é a Afrofuturo, um projeto de educação antirracista pensado a partir do resgate das origens afrodiaspóricas dos povos negros.





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