Sudão do
Sul permite que soldados estuprem mulheres como salário, diz ONU
Redação | São Paulo - 11/03/2016 - 17h31
Relatório das Nações Unidas aponta série de violações aos direitos
humanos cometidas pelo país; governo diz estar investigando possíveis crimes
O governo do Sudão do Sul tem
permitido que soldados do Exército e de milícias aliadas estuprem mulheres como
salário na guerra civil que assola o país desde 2013, denunciou um relatório do Alto Comissariado de Direitos Humanos
das Nações Unidas (Acnudh) divulgado nesta sexta-feira (11/03).
Entre abril e setembro de 2015
foram registrados 1.300 casos de estupro apenas no estado de Unidade, na região
norte do país. A violência sexual, contudo, não foi o único crime de guerra cometido.
A ONU registrou também torturas, saques, sequestros e assassinatos deliberados
de civis.
Wikimedia Commons
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Salva Kiir, presidente do Sudão do Sul; soldados e milícias aliadas operam
sob lógica de “faça o que puder e pegue o que quiser”
“A escala e o tipo de violência
sexual - cometidos principalmente pelas forças do governo e milícias aliadas -,
foram descritos com detalhes devastadores. No entanto, a quantidade de estupros
individuais e estupros coletivos relatados devem ser apenas uma parte do total
real. Esta é uma das mais horríveis situações humanitárias do mundo”, avaliou o
alto comissário dos Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al Hussein.
Segundo o documento, em lugar de receber salários, as milícias e os soldados operavam sob a lógica de “faça o que puder e pegue o que quiser”, o que incluía crianças: cerca de 702 crianças com menos de nove anos foram estupradas.
Segundo o documento, em lugar de receber salários, as milícias e os soldados operavam sob a lógica de “faça o que puder e pegue o que quiser”, o que incluía crianças: cerca de 702 crianças com menos de nove anos foram estupradas.
Além disso, pessoas suspeitas de
apoiar a oposição, incluindo jovens e idosos, eram queimadas vivas, sufocadas
em contâineres, desmembradas ou enforcadas em árvores. Em 2015, a ONU estimou
por volta de 10.553 mortes de civis somente no estado da Unidade.
O relatório ainda reforçou que “o
governo parece ter sido responsável por grande parte da sistemática violação
dos direitos humanos”, apesar de não isentar a oposição da responsabilidade de
também ter cometido crimes de guerra.
O governo do Sudão do Sul nega
que seu Exército tenha atacado civis, mas disse estar investigando. “Nós temos
regras de contato e elas estão sendo seguidas”, disse um porta-voz do
presidente, Salva Kiir, à BBC.
Ron Savage/ FlickrCC
Mulher e
crianças em Nimule, cidade do Sudão do Sul; civis, especialmente mulheres, são
alvo de atrocidades por parte de soldados
A guerra civil do Sudão do Sul,
que se emancipou do Sudão em 2011, começou em dezembro de 2013, quando o
presidente Kiir acusou seu ex-vice, Riek Machar, de planejar um golpe contra
ele. O país então se dividiu entre apoiadores do governo, cujo mandatário é da
etnia Dinka, e a oposição aliada a Machar, de etnia Nuer.
Um acordo de paz foi assinado em agosto do ano passado, após diversos acordos de cessar-fogo terem fracassado. E, em fevereiro deste ano, Kiir restaurou Machar ao posto de vice-presidente por meio de um decreto.
Um acordo de paz foi assinado em agosto do ano passado, após diversos acordos de cessar-fogo terem fracassado. E, em fevereiro deste ano, Kiir restaurou Machar ao posto de vice-presidente por meio de um decreto.
Segundo a ONU, pelo menos 50 mil
pessoas morreram nos dois anos de guerra e mais de dois milhões foram
deslocadas. Somente em 2015, o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados) indicou que 14 mil sul-sudaneses se refugiaram em Uganda e 11 mil
no Congo.
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