Marcha da
Maconha reúne mais de mil pessoas no Rio
- 07/05/2016 19h24
- Rio de Janeiro
Isabela
Vieira – Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Ativistas caminham na orla de
Ipanema, na direção do Arpoador, em defesa da regulamentação, comercialização e
do uso terapêutico e recreativo da maconha Isabela Vieira/Agência Brasil
Com crianças e pessoas que dependem de remédios
feitos à base de maconha, a Marcha da Maconha saiu, hoje (7), na orla da praia
de Ipanema, no Rio de Janeiro. É a 13a vez que ativistas se reúnem em
defesa da descriminalização da droga para uso terapêutico e recreacional e
fazem uma caminhada em direção à praia do Arpoador, na zona sul da cidade. Mais
de mil pessoas participaram.
O tema desta edição foi “A proibição mata todo
dia”, em referência às vítimas de confrontos com a polícia, por causa da atual
política de repressão. Nas contas da Campanha da Proibição Nasce o Tráfico, 230
mil pessoas morreram na guerra às drogas entre 2009 e 2013.
Apesar de vendida e consumida em toda a cidade, a
repressão à maconha tem caráter classista e racista, disse o vice-presidente da
Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, André Barros, um
dos organizadores. “A repressão só acontece onde moram os negros e pobres”,
denunciou. “Nossa luta não é só pela legalização, é contra essa guerra”,
completou.
Pesquisas
Ao lado de famílias com pessoas que dependem de
medicamentos à base de maconha, a mãe de uma criança que faz uso de um remédio
com canabidiol e de THC, Gabriela Mendes cobrou pesquisas e a produção das
substâncias no Brasil. Hoje, ela gasta cerca de R$ 5 mil por mês com os
medicamentos para a filha de 8 anos, que são subsidiados por um plano de saúde.
Caso a produção fosse feita nacionalmente, a estimativa de custo seria de
45 dólares por mês – cerca de R$ 157.
A filha de Gabriela tem síndrome de Rett e sofre
crises de epilepsia de difícil controle. A menina chegou a usar cinco tipos de
remédios para as convulsões, mas sem efeitos satisfatórios. “No primeiro mês de
uso da maconha medicinal, com canabidiol e baixo índice de THC, conseguimos
reduzir as crises em 90%”, revelou a mãe.
Pesquisas mostram que a
maconha tem efeitos positivos no tratamento de esclerose múltipla, glaucoma,
epilepsia e doenças crônicas, mas o preconceito contra droga trava a liberação
da produção nacional, alegam os ativistas. Para fins terapêuticos, a droga já
foi liberada no Canadá e Estados Unidos, por exemplo. No Brasil, é permitida
apenas a importação do canabidiol.
Guerra às drogas
A marcha contou ainda como uma ala feminina, que
protestava contra a criminalização de usuários e o encarceramento de mulheres
por causa do tráfico. “Representamos as mulheres presas por causa da droga, as
que sofrem com a perda de seus filhos na guerra ao tráfico e aquelas que passam
por violência para comprar a droga em áreas perigosas”, disse Graziela Areas.
Manifestantes também defenderam a legalização como
forma do fim do estigma ao usuário. “Fumo maconha há 40 anos e não aguento mais
ser preso, perseguido e chamado de criminoso”, desabafou Ricardo Vieira, que
foi preso, chegou a ser julgado esta semana e absolvido.
O vereador Renato Cinco (Psol), um dos criadores da
marcha, acrescentou que o movimento também é contra a internação compulsória de
usuários. Ele advertiu que um projeto neste sentido tramita no Congresso
Nacional, em desacordo com a política de saúde mental.
Por conta do histórico de confronto com a polícia
em edições anteriores, os organizadores do protesto de hoje fizeram um acordo
com a Polícia Militar que apenas acompanhou o protesto. Também foi pedido para
que os participantes não fumassem a substância durante a marcha.
Edição: Kleber
Sampaio
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