Políticas
antifumo impactam cultura do tabaco no Brasil
- 24/07/2016 10h53
- Brasília
Mariana
Branco - Repórter da Agência Brasil
Mais de 90% dos produtores de tabaco do Brasil
estão na Região Sul e têm pequenas propriedades Divulgação/Associação dos
Fumicultores do Brasil (Afubra)
O Brasil tem avançado no combate
ao tabagismo. Dados de 2015 do Ministério da Saúde mostram que, nos últimos dez
anos, o número de fumantes com mais de 18 anos de idade caiu 33,8%. A queda é
motivo de comemoração já que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os
custos para o sistema de saúde brasileiro com doenças causadas pelo fumo chegam
a R$ 23 bilhões ao ano. No entanto, a luta contra os males do tabaco tem outra
face. Para mais de 159 mil famílias, o produto é um meio de vida.
Mais de 90% dos agricultores que
cultivam o tabaco, ingrediente de cigarros, charutos e afins, estão em
propriedades na região Sul, o restante está no Nordeste. Segundo a Secretaria
Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, o tamanho médio
das terras cultivadas por eles é 15 hectares – ou seja, são pequenos
produtores. Considerada uma cultura lucrativa, o retorno médio chega a R$ 18
mil por hectare plantado de tabaco, segundo a secretaria.
Apesar da rentabilidade, o
negócio do tabaco hoje dá menos dinheiro que em anos anteriores. Segundo a
Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), entre 2011 e 2015, o
faturamento do setor deixou de crescer até começar a cair. Entre 2011 e 2012, o
faturamento dos fumicultores aumentou 33,4%. De 2012 para 2013 a alta no
rendimento foi de 9%; entre 2013 e 2014, o faturamento cresceu somente 1,15%; e
entre 2014 e 2015, registrou queda de 19,6%.
Essa diminuição nos ganhos
abrange o tabaco para consumo doméstico e exportação. A maior parte da produção
brasileira – entre 85% e 87% – é destinada a outros países. O Brasil é o
segundo maior produtor do mundo, atrás da China e alternando a posição com a
Índia. Mas dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sinalizam que o tabaco
está sendo menos buscado também a nível global.
Segundo a OMS, em 2010, os não
fumantes a partir de 15 anos eram 3,9 bilhões de pessoas, cerca de 78% da
população mundial nessa faixa etária. O organismo calcula que o número de
pessoas que não consomem tabaco subirá para 5 bilhões, ou 81% da população
projetada para 2025.
Políticas públicas
Apesar de não relacionar
diretamente a queda no faturamento à redução do total de fumantes, o presidente
da Afubra, Benício Werner reconhece que o número de agricultores trabalhando
com tabaco está diminuindo e que foi preciso reduzir a área plantada para “uma
adequação entre oferta e demanda”.
A redução da área plantada de
tabaco, com substituição por outros cultivos, é estimulada pelo governo. As
políticas públicas antitabagismo incluem ainda preço mínimo para o cigarro, que
em maio foi reajustado para R$ 5, e uma alta carga tributária.
Segundo a Afubra, o percentual do
faturamento abocanhado pela tributação passou de 56%, em 2011, para 65,2%, em
2015. O dirigente critica a política do preço mínimo e o aperto fiscal e diz
que as medidas fortalecem os contrabandistas de cigarros. “Isso está
prejudicando o cigarro legal em detrimento do ilegal.”
Ajuda aos produtores
O secretário especial de
Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário, José Ricardo Roseno, afirma que
o governo ajuda as famílias que vivem das plantações de tabaco a trocarem o
produto outras culturas. No entanto, segundo ele, o processo é demorado, porque
mesmo com o consumo em queda, o tabaco assegura uma boa renda. Além disso, os
agricultores já estão inseridos na cadeia produtiva do fumo e a articulação de
cooperativas e compradores para outros produtos leva tempo.
“A cultura do tabaco tem mais de
100 anos. Há uma cadeia produtiva organizada que garante compra, custeio.
Outras culturas, como pecuária de leite e corte, milho, feijão, arroz, dão uma
certa rentabilidade, mas é preciso a organização de toda a cadeia produtiva.
Por isso, a política [de auxílio] tem que acompanhar a realidade do
agricultor”, afirma.
Segundo Roseno, entre 2015 e
2017, o governo terá investido R$ 53 milhões em assistência técnica e extensão
rural. Segundo ele, atualmente, 30 mil famílias de fumicultores recebem esse
tipo de orientação para que possam se dedicar a outras culturas. O secretário
cita ainda recursos de crédito rural junto às prefeituras e o programa Mais
Gestão, destinado a fortalecer o cooperativismo entre pequenos agricultores.
Como resultado de ações do tipo,
segundo o secretário, a área plantada de tabaco caiu de 374 mil hectares para
308,2 mil hectares entre 2009 e 2015, uma redução de 17,6% em sete anos.
Crédito do Pronaf
Atualmente, a Secretaria de
Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário tenta reverter resolução do
Conselho Monetário Nacional (CMN) que entrou em vigor em 1º de julho. A norma
prevê que, para acessar o crédito do Programa Nacional da Agricultura Familiar
(Pronaf), os fumicultores precisam comprovar que ao menos 30% da renda vem de
outras culturas que não o tabaco. Na safra 2017-2018, o percentual subirá para
a 40% e, na de 2018-2019, chegará a 50%.
Antes, o percentual exigido era
20%. A secretaria defende o retorno a esse patamar, sob o argumento de que a
mudança prejudica os fumicultores. Segundo José Ricardo Roseno, um levantamento
do órgão mostra que com a exigência de 30% de outras culturas, 70% dos
agricultores familiares que cultivam fumo ficariam sem acesso ao Pronaf.
“O Pronaf não financia atividade
do fumo, financia outras atividades. Então, o que vai acontecer, é que o plantador
de tabaco que realmente quer diversificar as culturas não terá condições”,
analisa Roseno. Segundo ele, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário
formalizou, no Ministério da Fazenda, proposta para cancelar a resolução. A
expectativa é que o assunto seja discutido na próxima reunião co CMN.
Edição: Luana
Lourenço
Nenhum comentário:
Postar um comentário